Foi o sabor
das uvas maduras que a trouxe até mim. Já se passou muito tempo. Alguns verões fartos de sabores, outonos sem
cor, invernos frios e primaveras coloridas sucederam-se naturalmente e a vida
foi ditando seu ritmo. Criamos um elo de amizade desde o primeiro encontro
ocasional. Cuidamos dessa amizade como quem cuida de um jardim. As borboletas
vieram sem pedir permissão e enfeitaram com seu colorido e sensibilidade o que
já era naturalmente belo. Nossa amizade foi criando raízes cada vez mais
profundas. Passamos por momentos de dificuldades, de dor, de angústia, de
incertezas. Era como se nosso jardim estivesse passando por uma estiagem. Sabe,
quando a gente olha para uma planta judiada pela falta de água? Nem imaginamos
quanto isso a faz sofrer. Assim somos também.
Mas quem tem raízes fortes e chão fértil, sabe que mesmo na dor, vai
encontrar forças para suportar e dar a volta por cima. Às vezes precisamos
podar alguns galhos que secam, ou que deixam de produzir frutos bons, mas isso
faz parte do aprendizado.
Tudo
isso para dizer que conheci minha amiga Denise (coincidência até no nome) por acaso
do destino. Ela e o marido estavam à procura de produtores de uva para
comercializar em Bauru, SP. Vieram até a propriedade de meu marido (na época
nem éramos casados ainda), e a partir dali iniciaram a comercialização de uvas
e uma grande amizade entre as duas famílias. Dessa forma perdurou até mais ou
menos seis anos atrás quando uma fatalidade tirou a vida do patriarca da
família: O Pedrão. Descendente de portugueses, comerciante, honesto, correto,
trabalhador. Morreu trabalhando. Era o que sabia fazer.
Mas retomemos.
A vida não pode parar. Ela não dá essa
alternativa. Nem mesmo nós a queremos. Nós precisamos seguir em frente. Afinal,
cada um tem um caminho a percorrer que por vezes se cruza com outro, que se
funde, se completa, mas que de repente, ele volta a ser só nosso e nos vemos
novamente sozinhos nele. Minha amiga precisou passar por esse processo
doloroso. Agora ela segue seu caminho mais confiante, pois compreendeu que
nunca estará sozinha.
Mas e as
uvas??? Ah, as uvas. Elas são cumplices de tantas histórias. Elas trouxeram até mim uma pessoa que se
tornaria muito importante, uma amiga sem nível quantitativo ou qualitativo, um
exemplo de luta e superação, de alegria, de coragem, de caráter. Lembro-me das
vezes em que sentávamos debaixo dos parreirais, só nós duas, para conversar,
segredar, fofocar. Lavar a alma. Desta vez em que me visitou não pudemos
cumprir com nosso ritual de sentar debaixo dos parreirais. Da próxima vez quem
sabe.
Mas Deus sabe
como cada pessoa deve surgir em nossas vidas e não é por acaso não. Nesta última
visita, minha amiga veio cuidar de mim. Veio
para me dar força. E como me ajudou. Sou muito grata. Denise, você não é só uma
amiga, você é um anjo (travesso, mas prefiro assim, porque não levaria jeito
com anjo muito certinho). Obrigado por ter deixado os meus dias mais coloridos.
Denize Maria