'' Falar sem aspas,amar sem interrogação, sonhas com reticências,viver sem ponto final.'' Charles Chaplin

sexta-feira, 21 de março de 2014

AO SABOR DAS UVAS



Foi o sabor das uvas maduras que a trouxe até mim. Já se passou muito tempo.  Alguns verões fartos de sabores, outonos sem cor, invernos frios e primaveras coloridas sucederam-se naturalmente e a vida foi ditando seu ritmo. Criamos um elo de amizade desde o primeiro encontro ocasional. Cuidamos dessa amizade como quem cuida de um jardim. As borboletas vieram sem pedir permissão e enfeitaram com seu colorido e sensibilidade o que já era naturalmente belo. Nossa amizade foi criando raízes cada vez mais profundas. Passamos por momentos de dificuldades, de dor, de angústia, de incertezas. Era como se nosso jardim estivesse passando por uma estiagem. Sabe, quando a gente olha para uma planta judiada pela falta de água? Nem imaginamos quanto isso a faz sofrer. Assim somos também.  Mas quem tem raízes fortes e chão fértil, sabe que mesmo na dor, vai encontrar forças para suportar e dar a volta por cima. Às vezes precisamos podar alguns galhos que secam, ou que deixam de produzir frutos bons, mas isso faz parte do aprendizado.
                Tudo isso para dizer que conheci minha amiga Denise (coincidência até no nome) por acaso do destino. Ela e o marido estavam à procura de produtores de uva para comercializar em Bauru, SP. Vieram até a propriedade de meu marido (na época nem éramos casados ainda), e a partir dali iniciaram a comercialização de uvas e uma grande amizade entre as duas famílias. Dessa forma perdurou até mais ou menos seis anos atrás quando uma fatalidade tirou a vida do patriarca da família: O Pedrão. Descendente de portugueses, comerciante, honesto, correto, trabalhador. Morreu trabalhando. Era o que sabia fazer.
Mas retomemos.  A vida não pode parar. Ela não dá essa alternativa. Nem mesmo nós a queremos. Nós precisamos seguir em frente. Afinal, cada um tem um caminho a percorrer que por vezes se cruza com outro, que se funde, se completa, mas que de repente, ele volta a ser só nosso e nos vemos novamente sozinhos nele. Minha amiga precisou passar por esse processo doloroso. Agora ela segue seu caminho mais confiante, pois compreendeu que nunca estará sozinha.
Mas e as uvas??? Ah, as uvas. Elas são cumplices de tantas histórias.  Elas trouxeram até mim uma pessoa que se tornaria muito importante, uma amiga sem nível quantitativo ou qualitativo, um exemplo de luta e superação, de alegria, de coragem, de caráter. Lembro-me das vezes em que sentávamos debaixo dos parreirais, só nós duas, para conversar, segredar, fofocar. Lavar a alma. Desta vez em que me visitou não pudemos cumprir com nosso ritual de sentar debaixo dos parreirais. Da próxima vez quem sabe.
Mas Deus sabe como cada pessoa deve surgir em nossas vidas e não é por acaso não. Nesta última visita, minha amiga veio cuidar de mim.  Veio para me dar força. E como me ajudou. Sou muito grata. Denise, você não é só uma amiga, você é um anjo (travesso, mas prefiro assim, porque não levaria jeito com anjo muito certinho). Obrigado por ter deixado os meus dias mais coloridos.


Denize Maria

quinta-feira, 20 de março de 2014

A TERAPIA DO RISO


                O espaço de tempo entre o estar de pé e o cair é muito breve e só nos damos conta quando passamos de um estágio para outro rapidamente, quase instantaneamente.
Comigo foi mais ou menos assim, mas não convém falar aqui das minhas dores e consequências, mas sim do tempo. O tempo que passo praticamente ociosa, não que assim eu queira, mas por força... De quê mesmo??  Bom, pensando bem, estou sendo forçada a ficar praticamente imóvel por causa de um babaloo que estourou. Verdade!
Eu explico:  Diagnosticada com hérnia de disco extrusa, e devido a ela ( uma hérnia de respeito!), as dores quase insuportáveis e retenção muscular, me impossibilitam de caminhar. Recomendada pelo médico, repouso, fisioterapia e medicação. Não necessariamente nessa ordem, mas todas. Acrescentei por sugestão a acupuntura. Amei.  Mas voltemos ao início. Procurei pela fisioterapeuta que já cuida de minha filha e expliquei o problema. Ela prontamente me disse: Venha, vamos ver o que podemos fazer. No primeiro atendimento fui à clínica. Quer dizer, minha amiga Denise Domingues me levou (Essa é outra que vale uma vida pela amizade).  A fisioterapeuta me avaliou, conversou e me explicou que a hérnia parece com um babaloo. No meu caso, um babaloo estourado com o recheio vazado. Rimos. Só esqueci de perguntar se tem sabor esse recheio. Mas pensando bem... Melhor não. Na segunda sessão ela precisou vir até minha casa, pois minha locomoção havia piorado. Entre um exercício e outro sempre uma boa risada e um novo conceito sobre qualquer assunto. Filosofias então... A gente se diverte muito. Foi nesse dia que ela me sugeriu uma amiga que faz acupuntura. Vamos tentar? Disse ela. Tentamos. Na segunda feira ela aparece com a amiga acupunturista. Muito centrada e profissional a amiga iniciou com os procedimentos. Eu estava deitada na minha cama, e logo a fisioterapeuta muito espontânea, deitou do meu lado e começou a fazer suas intervenções, palpitando daqui e dali, perguntando, filosofando... Do outro lado da cama, minha mãe que estava me visitando. Conversa vai, conversa vem, descobrimos que a menina das agulhas era filha de uma conhecida de minha mãe na época de juventude, numa comunidade do interior de Ibiam. Coincidências ou não, eu estava toda cheia de agulhas enquanto a conversa rolava solta, os risos ecoavam no quarto e as filosofias brotavam como água em cachoeira.  A Jô (fisioterapeuta) inclusive se prontificou em fazer em mim um procedimento de emergência devido a um problema subsequente ao principal. Procedimento esse que foge um pouco dos atributos de um fisioterapeuta e que não convém comentar aqui. Acredito que ela deve ter se arrependido de ter falado, mas como ela fala tudo o que pensa... E sempre cumpre e assume com o que fala... Sei que se eu precisar ela será solícita em me ajudar. Mas pode ficar sossegada Jô, depois do que aconteceu hoje cedo, acredito que não precisará empenhar sua palavra! ( risos).
Ontem voltei à clínica e estavam as duas: a Jô e a Keila (acupunturista) a me esperarem. Rimos muito, fizemos todos os exercícios, e ambas se mostraram muito preocupadas com minha recuperação.  Ontem então nos superamos nas filosofias e conceitos (alguns de poucos proveitos), mas todos verdadeiros e puros. Falamos de poesia e amor. Falamos de dor. De filhos. De fé. De oração. De Marias.
A vida nos dá oportunidades às vezes um tanto tortas para que possamos conhecer pessoas mais profundamente. Às vezes para nos conhecermos a nós mesmos mais profundamente.

Denize Maria.


quarta-feira, 19 de março de 2014

HORIZONTES



O horizonte se fazia segredo, desafiador,
Mas meus pés afoitos sob o comando da mente
Desvendavam cada passo, cada pedra, cada espinho
E iam construindo  o caminho, a trilha, os atalhos;
Levando-me ao encontro do meu destino
Além dos horizontes desenhados no papel
Pintado de por de sol
Contornado de montanhas
Enegrecido pelas sombras da noite.
Feito águia sedenta
Em busca de pouso
Um instante de repouso
No topo da pedra fria
Recarrego as energias
Parto para outros voos
Descortinam-se diante meus olhos
Horizontes que só eu vejo e sinto.
Serão meus. Eu os conquistarei.

Denize Maria.


sexta-feira, 7 de março de 2014

VIDA QUE CORRE SOLTA

A vida corre solta
Pula cerca, pula muro,
Desce rio e cachoeira,
Sobre montanhas, desce montanhas,
Ganha o campo, colhe flores,
Sorve o mel, voa com as borboletas,
Viaja contra o vento ou pega carona com ele.
Banha-se de lua, encanta-se com as estrelas,
Sorve o sol da manhã, encanta-se com o seu partir,
Pega carona na poesia e deixa-se levar.
Vida que corre solta,
Ganha o sol da manhãzinha,
A lua pra fazer um carinho,
As estrelas pra conversar de mansinho,
A chuva para brincar com alegria ingênua.
Às vezes se perde nos labirintos
Mas se encontra no espelho de um olhar
Aconchega suas dores num abraço
Perpetua num beijo seu destino.
Vida que corre solta, liberdade,
Enquanto o mundo gira, liberdade,
Encontra um amor, completude.
Vidas que correm juntas, liberdade,
Pulam cercas, pulam murros,
Descem rios e cachoeiras...
Juntos.



Denize Maria.