'' Falar sem aspas,amar sem interrogação, sonhas com reticências,viver sem ponto final.'' Charles Chaplin

terça-feira, 25 de novembro de 2014

A CHUVA



A chuva nos encontrou despidos de qualquer razão
Brincou escorregar pelos cabelos
E percorreu sem pudores pelo dorso moreno
Contornando as curvas, colando a roupa, atiçando os desejos.
Já sem qualquer vestígio de sobriedade
Deixamos nossas peles se tocarem como carícia
Nossos corações ditarem o ritmo sem pressa,
Nossos olhares, o difuso, o complexo, o belo querer.
E a chuva continuou sua canção demente,
Enquanto o mais profundo anseio buscava porquês
Se os pés ainda pisavam a areia, mas o corpo havia ganhado asas...
As mãos ganharam vida, os lábios tocaram outros lábios sem reservas
Quentes, febris, afoitos...
À beira mar nossas fantasias tornaram-se palpáveis
Juntamos a poesia e o prazer num roçar de peles e mentes...
...o mar ainda trouxe uma onda leve para tocar nossos pés.



Denize Maria

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

MANHÃ DE DOMINGO AO SABOR DE TEU OLHAR



O mar que dança em teus olhos
Faz meus desejos afogar
Contagia, é inebriante...
Perder-me nesse doce olhar.

A brisa que tua presença emana
Faz minha pele arrepiar
Como se fosse o espelho d’água
Quando se deixa acariciar.

Não há nada neste mundo
Que possa em versos traduzir
Tamanha perspicácia
Que teus olhos tem de me seduzir.

Tento em vão como poeta
Falar vagamente desse profundo mar
Que guarda consigo, em segredo
O encanto de tanto amar.


Denize Maria.

domingo, 9 de novembro de 2014

RETICÊNCIAS

A poesia pairava no ar como perfume embriagador
E borboletas pousavam sobre jardins em festa.
Outonos e primaveras  reversaram-se  em sincronia
Invernos e verões em corpos sedentos e carentes
Poemas e poesias flutuavam nas ondas do oceano dos sentimentos
E morriam mansamente em corpos  insanos e quentes.
Na carência de beber das estrelas ao longe
Bebia-se da luz dos olhos de outrem
Do mel da poesia, da inocência dos anjos,
Da magia da lua e do encanto do beijo que não veio
Do abraço esperado e do sorriso fotográfico.
Os sonhos foram ganhando formas
Sentimentos foram sendo  provocados
Alimentados, saciados, imprevistos.
Queria dormir em braços reais
Que se ofereciam abrasadores
Queria brincar com teu sorriso
Que se abria em trilhas pecaminosas,
Queria encontrar meus olhos dentro dos teus
E me perverter no céu de tua boca.
Perder-me no emaranhado das tentações
E gozar de todos os prazeres lascivos improváveis
Embriagar-me e embriagar-te.
Ganhar e dar-te asas
Criar vínculos.
Legítimo.
Anjo poeta, homem sedutor,
Se um dia o encontrar numa praia deserta
O firmamento tocará a lâmina do mar.
Sucumbirá o sol e a lua será a única testemunha.
...
A noite me encontrou sozinha
Sentada  na praia observando o mar
Deixando a brisa balançar meu cabelo
E aliviar meus desalentos...
...
Entreguei meus medos ao mar
Recolhi meus sonhos
E coloquei em frascos lacrados...
Um dia quem sabe os retomarei.
...
Sem pontos finais
...






quinta-feira, 6 de novembro de 2014

AVENTURAS EM CANASVIEIRAS


Personagens principais: Menina Maluquinha, Menina Poeta e Menina Morena.

Cena Um:

Procurando a salada no prato da Menina Maluquinha.

Restaurante fervendo às 12h30min, fila enorme e interminável, uma profusão de cores, falares, trinar de talheres, risos e comentários. No momento de servir-se, a quantidade e diferenças do cardápio era tentador. Como eu adoro saladas e as cores me fascinam metade do meu prato é destinada a saladas e legumes. Depois disso é preciso acondicionar o restante dos alimentos que são a tentação mais pecaminosa. Mas sem consciência pesada porque as saladas me salvem do inferno das calorias em demasia, sigo na fila até o fim e ainda me sirvo de sobremesa. Minha amiga, a Menina Maluqinha, fica colocando defeito nas saldas porque o que ela quer mesmo é sustância alimentícia. No almoço geralmente podemos encontrar um brócolis verdinho quase perdido naquele mar de macarrão, arroz, lasanha, batata frita, carne... No jantar entre os andares do edifício formado por pedaços de pizzas, eis que surge um retalho de alface verde clara, quase imperceptível sobre a montanha de sabores diferentes dessa bombástica delícia calórica. Convenhamos que a comida do restaurante do hotel é de boa qualidade. Mas as desculpas que sempre prevalecem é a de que devemos aproveitar cada momento em cada situação e que em casa nunca tem tanta variedade de sabores. Momento de comer, farte-se; momento de dormir, desmaie; momento de caminhar na rua, vislumbre-se; momento de andar na praia, aí sim, a Menina Maluquinha consegue perder seus óculos!

Cena Dois:

Cadê meus óculos!

Vindas do oeste do catarinense o trio de “perdidas na ilha” resolve ir à praia tirar umas fotos a fim de mostrar aos amigos e colegas no retorno da viagem. Fotos do tipo: morram de inveja-me, estive em Canasvieiras! 
Depois de algumas fotos, poses e micos na areia da praia, eis que nossa colega Menina Maluquinha (que usa óculos de lente, mas também queria usar os óculos de sol) nota falta de seus óculos de lente. Ela havia tirado as lentes para fazer poses com os óculos de sol, e quando se dá conta havia perdido seus óculos de lente. Na areia nos arredores, nada do objeto!
-Sumiu meus óculos! Meninas, vocês viram? Cadê meus óculos!!
Ninguém havia visto e não estava com ninguém, nem em lugar algum.
O desespero toma conta da Menina Maluquinha. – Eu não enxergo nada sem eles!
Prontamente nos pusemos a ajudar na procura. As ondas do mar quebravam na praia e nós tentando visualizar alguma coisa quando a maré voltava ao mar. Depois de algumas ondas nos molhando até a cintura, eis que a enxergo os óculos da moça presos na areia. Mas antes que eu pudesse alcançar, veio uma onda e tirou-me o foco. O objeto sumiu diante de mim. Mais uma vez o nervosismo tomou conta de todas. Mais alguns intermináveis minutos eis que a dona do objeto grita: - Achei!!! Não acredito!!!
A Menina Morena mais que prontamente grita: - então pega!!!
Os óculos estavam ali, no raso da praia. Descobrimos que o mar não usa óculos.
Resultado da aventura: duas molhadas até a cintura, chinelos cheios de areia, e muitos risos, tomamos o caminho de volta até o hotel.
Aliviada pelo episódio, restaram comentários impróprios relacionados ao tema do curso e as situações ocorridas naquele início de tarde de novembro em Canasvieiras.  E o curso continua...

Denize Maria








quarta-feira, 5 de novembro de 2014

FLORES ROUBADAS NA MADRUGADA



Era madrugada de novembro
E eu saí para colher flores.
A cidade coberta de névoa
Encobria a luminosidade da lua
Ofuscava minha sombra nas calçadas
E abafava meus passos na areia
Entre as nuvens de meus sonhos.
Flores perdiam-se entre ramos
Que despendiam por entre murros e cercas,
E eu ávida e confusa buscava os perfumes
Inalando o sereno noturno impregnado de fantasias.
Minhas mãos buscavam as texturas e as sedas das pétalas e folhas
Enroscando e demorando-se entre as ramagens
Que envolviam-me na brisa fresca e acolhedora
Num emaranhado de toques e quereres.
De minha alma brotaram ímpetos de demência dócil
Em mar de ondas revoltas que invade todo meu corpo
Lancei nestas águas meu barco sem rumo,
E junto com as estrelas guias
Que espiavam minha insanidade...
Sonhei!



Denize Maria

terça-feira, 4 de novembro de 2014

O MAR E O HOMEM



Feliz do mar que abriu suas águas
Para receber o corpo endeusado do homem
Que despido de todos os pudores e vestido de sensualidades
Seduz-me em seus movimentos
O andar quase coreografado
A involuntária trajetória da mão escorregando pelo cabelo molhado
As marcas deixadas na areia pelo caminhar lascivo
Postura mítica, quase miragem,
O olhar em convite
E a boca em promessa
Fazem-me pecar
Fazem-me pecar e cantar-te em versos...
E o homem brinca com minhas sensações...
Sai do mar o semideus grego palpável
Gotas de água do mar
Escorrem pelo busto sarado
Iluminados pelo sol que as fazem brilhar,
Por onde escorregam  deixam rastros de desejos
Devassos,
Controversos,
Em versos.

Denize Maria


terça-feira, 28 de outubro de 2014

SÚPLICA



Senhor,
Sou uma jovem senhora que vem rogar-lhe súplicas.
Já não suporto tamanho abandono, descaso e desprezo,
Minha pele de ébano apresenta sulcos profundos e imperfeições que me causam embaraço,
Fazendo sentir-me velha em plena juventude,
Uma velha em decomposição ainda que em sobrevida.
Sinto o abandono e o descaso ferir-me a alma,
Portanto, venho suplicar Senhor.
Rogo-lhe um tratamento adequado,
Pois, já são tantos remendos que já não me reconheço em minha identidade.
Que me seja permitida Senhor,
Uma nova manta asfáltica capaz de suportar a intensidade do tráfego;
Sinalizações adequadas capazes de proporcionar segurança;
Trevos e acessos com visibilidade;
Acostamentos preservados e conservados para maior garantia.
Senhor,
Já não suporto mais sentir minha pele sendo esfolada pelas bruscas freadas de pneus;
Já não suporto mais ouvir soluços e choros de pais e mães que perderam seus filhos em acidentes,
Pois é triste sentir as lágrimas frias escorrerem sobre minha pele,
Elas ardem profundamente, coroem  e  ferem o meu íntimo;
Já não suporto mais ouvir o barulho das ferragens se retorcendo e estilhaços de vidro tinindo;
Já não suporto mais ouvir sirenes afoitas, vindo ao encontro da dor;
Já não suporto mais carregar cruzes em meus entornos. Elas me ferem impiedosamente num sentimento de culpa e responsabilidade.
Senhor, minha voz é muda e silenciosa, como posso defender-me?
Já não cabe mais em mim promessas, discursos bem elaborados e ilusões.
Vidas estão em movimento, em risco constante.
Prejuízos materiais somam-se aos físicos... Vidas que não voltam mais,
Vidas que num de repente perdem sua identidade e viram mais uma cruz anônima na beira da estrada.
Eu, aqui, nessa solidão tumultuada venho pedir-lhe Senhor,
Deite sobre os responsáveis pela minha vida, mais responsabilidade e dinamismo.
Eu preciso com urgência de alguém que tenha piedade de mim e de quem de mim depende.
Preciso juntar minha voz às milhares de vozes que diariamente ouço rogando por ti diante das dificuldades.
É meu grito de socorro que vem ao encontro de ti Senhor, antes que...


Denize Maria