'' Falar sem aspas,amar sem interrogação, sonhas com reticências,viver sem ponto final.'' Charles Chaplin

sexta-feira, 28 de junho de 2013

PRISIONEIRA





Se eu partisse na madrugada
     E deixasse vestígios de perfume em teus lençóis
     E levasse comigo todas as estrelas que lhe ofertei,
     Minhas lágrimas se confundiriam com o orvalho...
Se eu partisse pela manhã
     E deixasse o passado perdido nas curvas da estrada
     E transformasse a espera em saudades,
     Levaria comigo um vazio imperdoável...
Se eu partisse à tarde
     E levasse comigo o calor do sol e dos teus braços
     E deixasse meus passos morrerem lentamente no fim da rua,
     Minha máscara se cobriria de pó...
Se eu partisse à noite
     E deixasse de registrar fantasias e de escrever versos
     E levasse na mochila e nos rastos o clarão da lua,
     Voltaria na madrugada a invadir teus sonhos,
                                              Bem de mansinho...

Denize Maria.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

RESPOSTAS




Por quê?
Porque preciso te cantar em versos
Ungir-me de melancolia
Marejar meus olhos vazios
Regar as camomilas do campo.
Vestir-me com fantasias ousadas
Furtar teu rosto nos meus sonhos
Nas desertas noites em fuga...

Por quê?
Porque preciso ser conhecedora desse amor
Sentir imensamente tua falta
Sem nunca ter-te conquistado.
Ver refletindo no espelho imagens...
Distorcidas miragens, nuanças sombrias;
Capricho de minha imaginação criativa
Ausência de equilíbrio entre o real e o imaginário.

Por quê?
Porque preciso lamentar fobias absurdas
Mágoas turvas entranhadas no peito, feito medalhas:
Fragmentos recônditos de falsas verdades.
Deixar fugir de dentro de mim
Um anjo abastado, sem asas...
Ir ao teu encontro à beira de um abismo
Onde desenfreadas emoções ofertam armadilhas.

Por quê?
Porque preciso juntar meus pedaços em silêncio
Como pedras de um mosaico amorfo
Guardar as rendas que o destino bordou
Guarnecer em meus braços o calor do crepúsculo.
Provar, trôpega, da amarga doçura
Ilusão corrosiva de profecias banais
À espera que o vento te traga até mim...

Denize Maria.



quarta-feira, 26 de junho de 2013

VENTO MENINO




Nem uma palavra.
Lábios sedentos, calados.
Palavras são desnecessárias.
Tempo pouco
Para contemplar o tesouro
Que tenho nas mãos.
Leviano querer, só meu, de mais ninguém.
Minha mente em transe ao doce vício
De meus olhos que flertam estrelas...
Ciranda de passos lentos pelo cosmos
Dança de um vento menino
Que desconhece sua força de sedução.
Pedi então para que fosse só meu, de mais ninguém

... Mas num suspiro me respondeu: Lamento meu bem!

Denize Maria.

QUASE LOUCURA




Teimam em verter de novo
As águas dos meus olhos...
Em desespero, busco aconchego
No bálsamo que também escorre
De tuas amêndoas doces.
Desejos tímidos, e loucos
Percorrem caminhos desconhecidos
Imaginários
Desvendam prazeres ocultos
Que a alma engenhosa
Sacia nas nascentes.
Por bem, meu bem, não quero
Que a loucura me anule
E o arroubo insaciável me despoje da razão!
Deito-me extasiada à sombra das acácias
Que dançam suas folhas ao vento.

... Desperta de um novo desejo de posse
Transformo em tálamo a grama macia

E, só tua, faço-te meu pela vida inteira.


Denize Maria

terça-feira, 25 de junho de 2013

MÃOS VAZIAS




           Saudades de tua fragrância silvestre
Fizeram-me fartas mãos afoitadas...
desfolharam roseiras e jasmineiros
Para colher nuas pétalas perfumadas.
...Mas, uma a uma, perderam-se no caminho
E o vento as varreu para muito longe.

Saudades do brilho de teu olhar
Fizeram-me fartas mãos inquietas...
Furtaram estrelas cintilantes
Diamantes presos no manto negro do céu.
...Mas a noite foi se desfazendo
E o sol ofuscou todas as estrelas.

Saudades de tua pele alva e quente
Fizeram-me fartas mãos ansiosas...
Encheram-se de areia branca das dunas
Que os ventos não se cansam de esculpir.
...Mas a ansiedade me fez estreitar as mãos
E a areia escorreu por entre os dedos.

Saudades de tuas lágrimas de despedida
Fizeram-me fartas mãos carentes
Que se moldaram em concha
Para colher os pingos da chuva.
          ...Mas as águas poucas se esvaíram
Restando-me apenas tíbias lembranças.

Saudades de nosso louco amor que não morre...
Tenho somente mãos vazias para te ofertar,
Mas neste instante juntam-se às tuas, e me completo
Para visitarmos juntos os jardins das provocações
Para contemplarmos, atônitos, o nosso céu estrelado
Para brindarmos à vida, dançando na chuva

Para fazermos amor nas dunas, morrendo de saudades.

Denize Maria.

domingo, 23 de junho de 2013

INFINITO



Procuro um canto
Qualquer recanto
Para te guardar incólume, infinito
Sem, no entanto te perder de amar.
Já não cabe nas mãos o encanto
E dos olhos, então?!... Transborda
Deita fora... Dos lábios doces jorra.
É rio, é cachoeira, amaro mar.
É vento, é ventania traiçoeira.


Denize Maria.

DOCE ANJO




Anjo menino, homem, moleque;
Travesso sorriso, perdição, encanto.
Doce magia que se abre em leque
Secando as lágrimas de meu pranto.

Anjo doce, anjo sem identidade.
Nesse mundo de homens intolerantes.
Existência sem porquês ou verdades
Dotada de uma energia intrigante.

Alma leve de anjo homem
Caprichoso, sem asas emplumadas.
Dores que ao seu toque somem
E acariciam meus sonhos nas madrugadas.

Voz mansa de anjo puro
Doçura em olhos inocentes.
Braços e abraços que procuro
Anjo amigo e confidente.

Corpo, alma e coração
Corpo rebelde que revoluciona
Alma tocada pela emoção
Coração teimoso que, doido, se apaixona.

Quem me dera mensageiro
Sentar-me ao lado de ti...
Tocar tua aura, sentir teu cheiro...
Esquecer os dissabores que senti.

Denize Maria.


sexta-feira, 21 de junho de 2013

OBSESSÃO




Não vejo a hora
De vestir a negra fantasia
Cravejada de brilhantes
E fartar-me
Então de teus lábios
Pétalas róseas embalsamadas
Que me ofertam posses.
Desfrutar
Dos meandros de teu corpo
Deserto de areias quentes
Pele alva, seda aromatizada...
Que me perfumam as mãos.
Flertar
Com teus olhares diáfanos
Místicos, alegóricos
Que tolhem meus pensamentos.
Momentos únicos, singulares
De imensurável desejo
Contidos em sonhos silenciosos
Vulneráveis ao torpor e ao sono...
...Resta-me chorar o medo da perda

Nas asas das manhãs.


Denize Maria.

terça-feira, 18 de junho de 2013

ROMANCE NA LUA





Juntei nuvens brancas, de algodão
E com delicadeza e capricho
Arrumei uma cama aconchegante.
Com retalhos leves e imaculados
Teci um vestido longo e rodado...
Linda, deixei-me espelhar no lago azul
Do firmamento, apreciando-me vaidosamente
A rodopiar como uma bailarina.
Colhi das copadas das árvores
As mais belas e perfumadas flores
Arranjei coloridos buquês
E os bordei na barra do meu vestido.
Nas pontas dos pés descalços, como uma rainha
Colhi um punhado de estrelas reluzentes
E as compus em forma de arco para coroar-me.
A lua, cúmplice no amor, estendia-me o caminho
Por onde eu desfilava todos os meus sonhos
E excitava a brisa a possuir meu corpo

E a acarinhar minha alma de borboleta.

Denize Maria

sábado, 15 de junho de 2013

SINCRONIA




Cativei
O aroma das flores
Nos vergéis multicores da primavera
Que bailam no embalo do vento.

Cativei
O planar das borboletas
Num constante malabarismo
De se enamorar com as flores.

Cativei
A castidade do orvalho
Que chora sobre as pétalas
Das flores que se abrem
Para seduzir a volúpia das borboletas.

Denize Maria.


sexta-feira, 14 de junho de 2013

CARROSSEL




Reli meus versos um a um
E minhas palavras morreram nos abismos.
Esperei. Não respondeu eco algum.
- Será que te inventei?

Vai ver... Já te criei ousado
Como a mansidão dos verdes lagos vagos.
Cigano meteoro desvairado.
- Mentiram-me os sonhos?

Retalhos de uma canção de amor
Plumas ao vento valsando ilusões.
Girândola de saudade, covardia e dor.
- Onde vou chegar?

A noite se enlaçou no veludo da brisa
E descobriu-me louca, lúcida, ingênua, obscena
Na procura da rima que meu verso precisa.
- Eram reais as profecias?

Doeram todos os músculos
As âncoras enferrujando no cais
Na inútil espera de novos crepúsculos.
- Onde foi que errei?

O sonho, essa frágil escultura de areia
Acordou nu e só na praia deserta
 À espera da brisa que vagueia.

- E se a maré subir?

Denize Maria.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

PORTA RETRATO





A chuva cai lá fora...
Eu olho no fundo de teus olhos
Tentando decifrar o enigma
Que transcende os limites da fotografia.
Palavras vãs deixadas de lado
Reacendem o brilho, queimam de novo...
Irmãs de corpo e alma
Forças naturais e sobrenaturais agem em mim:
Sussurro insistente de um coração em desatino.
O mundo lá fora esquecido
O tempo parado no próprio tempo
O mel descansa enclausurado no favo
Róseas pétalas recolhem-se em concha
A emoção irrompe como um vulcão...
Apaixonada por ti
Semeio flores em sorrisos fáceis e fartos
Reluzo o brilho de teus olhares doces
Transpiro sedução pelos poros da pele em brasa
Abraço tesouros apenas com o toque dos dedos
Garimpo pedras raras em noites estreladas
Silencio enquanto as sombras das incertezas dançam
Conspiro com o vento sereno, densas madrugadas de sonhos.
E por falar em sonhos... Sonhei-os contigo.
Tuas mãos eram quentes como lavas.

Dennize Maria.


DIGITAIS




Vestígios de solidão aportam
Em deserto cais envolto em espessa neblina.
Quase palpável
Nostálgica presença de devaneios entediados
Faz-se ouvir no quebrar das ondas na marina
E no pio agudo de gaivotas perdidas.
Um turbilhão de ventos opostos
Açoitam emoções imprevisíveis
Desfolham sentimentos
Espalham aromas de incensos e jasmins.
Agitam-se no meu corpo marolas de desejos:
Componho teu nome na areia
E palavras supérfluas de amor.
Em carícias de mel e delírios
Procuro por ti nas digitais indeléveis

Que a brisa deixou em minha pele.

Denize Maria.

terça-feira, 11 de junho de 2013

SENTIDO ÚNICO




Cai a noite
Louca, insana
Desejos férteis
Insaciável chama.
Bisbilhoteira lua
Grávida de luz
Espia sorrateira
Corpos nus.
Oceano de prazer
Cheiro de mato virgem
Toques, olhares lascivos.
Alheios ao mundo
Tempo e espaço confundem-me.
Busco-te em sonhos
Como a noite se deita nua.
Grito a dor, ecos profundos

Dor de um amor só meu.

Denize Maria

segunda-feira, 10 de junho de 2013

ÂMAGO




Autômatos ponteiros do relógio
Apressam-se em desfazer o tempo
Enquanto tento colher estrelas
Em noites quentes de dezembro.
Camuflados nas sombras da lua
Meus medos se acovardam
Atraindo-me para perigosos atalhos.
Neguei-me o direito das lágrimas
Mesmo carente de teus olhos
De brilho silencioso que ecoa longe.
Brincando nos portais do meu coração
Descobri a brisa alforriada
Num esconde-esconde sedutor.
Prisioneiros desejos meus despertam cismas
Quando te flagro em sintonia com outros sonhos
Preparando a armadilha mágica da paixão.

Denize Maria


sexta-feira, 7 de junho de 2013

SENTENÇA



Vontade de:
Beijar na boca
Rir feito louca
Falar até ficar rouca.

Saudade de:
Banho de cachoeira
Perfume da roseira
Ficar de bobeira.

Lembranças :
Da escolinha do interior
Do meu primeiro amor
Das frutas silvestres, o sabor.

Desejo de:
Realizar meus sonhos
Fugir dos padrões enfadonhos
Correr mais riscos medonhos

Gostar de:
Chuva no telhado
Recordar o passado
Sorvete bem gelado.

Perder-se:
Na leitura de um livro ganhado
No banheiro, cantar desafinado
Ou ouvir a noite de madrugada.

Apreciar:
O nascer do sol no horizonte
Observar os vales do alto dos montes
O rio escapando por debaixo da ponte.

Fugir:
Do medo dos desafios
Da preguiça que dá o frio
De quem perturba meus brios.

Querer:
Sentir teu cheiro novamente
Teu abraço terno e quente
Teu olhar com inocência demente.

Partir:
Para longe sem destino
Com a pureza de um menino
Mas com alma de peregrino.

Levar:
Na bagagem a ousadia
Nos pés a energia
E na alma a alegria.

Escrever:
Nos murros alheios uma poesia
Com versos livres das teorias
Mas com emoção em demasia

Viver:
Dançando com o vento
Sendo dona do seu pensamento
Amar sem nenhum julgamento.

Denize Maria

quinta-feira, 6 de junho de 2013

AMOR VAGABUNDO

Sonhei que tinha um amor vagabundo
Desses que vivem de vento pelos becos do mundo...
Andava sem rumo, sem ter conluio com o tempo.
Abandonei então a rotina cotidiana para viver esse momento:
Podia andar descalça na areia e deixar meu rasto
Sob o luar prateado, para brindar esse amor ainda casto.
Podia andar sem perigo na contramão do mundo
Para viver um pouco mais esse louco amor vagabundo.
Quebrei todas as regras, e fui chamada de imprudente
Por viver um amor vadio descompromissadamente.
Amor de dançar noites, madrugadas, e dormir distraída
Sob as estrelas cadentes fazer amor
E esperar o dia amanhecer com seu sorriso quente.
Brincar na chuva, farrear, bêbada, no lodo...
Louca! Certamente seria chamada louca,
Mas a plenitude desse amor jamais poderá ser explicada.

Tenho um amor vagabundo, insano, clandestino
Uma porção homem, outra porção menino,
Uma dose de sedução, outra dose de ingenuidade...
Fusão que confunde, deixa marcas e saudade.
Um amor tão doido que me faz gostar do frio
E que em pleno verão me causa arrepios.
Que me julguem somente os amantes que amam loucamente!
Interrogação nenhuma apaga o esplendor desse amor louco
E pecador, desse amor vagabundo que desfila fantasias
Repleto de sonho-realidade, emoções fortes, felicidade.
Tão intenso e ao mesmo tempo irreal, mas verdadeiro;
Amor que faz perder a razão, tocar os extremos ao tê-lo por inteiro.
Que nos faz colher estrelas, dizer poemas, perfumar as flores,
E provar na pele um misto de desejos e sensuais sabores.
Sou feliz, por furtar da realidade, insanos momentos de felicidade,
Fantasiar um amor vagabundo que sopra aos quatro ventos.
Não me deixou nada muito durável, nem fotografias nem presentes...
Somente a saudade e o halo de um sentimento bom e infindo.
Com o brilho dos olhos, pedras raras, inundou-me de desejos
E com os lábios, pétalas vermelhas, presenteou-me de mil beijos.
Cantou em plangente seresta, velhos e conhecidos refrãos,
Fez graça das desgraças da vida, encheu de luz meu coração:
Um amor vagabundo colorido como uma linda aquarela
Nuances suaves, tons e semitons que a imaginação pincela.
É próprio desse amor sem paradeiro subverter com férreo apego
E se impor – doce instinto traiçoeiro – devasso e sem pudor.
A tela de um sonho caro invade a nave de um templo sagrado
E desenha um rosto terno e perene, as feições desse semblante imaculado.
A noite se desfaz deixando-me a certeza e o fascínio de ter vivido
Um amor vagabundo, puro e louco, real e sem domínio, um amor,
Que foge aos padrões normais, um amor sonho que me faz feliz
Que sinto arder como fogo sem fim, amor que não esquecerei jamais.

Denize Maria

SEMPRE




Teus olhos emergentes
Dentro dos meus
Eternamente.
Fecham-se os meus
Vejo os teus,
Abrem-se os meus
Brilham os teus.
É doce desejo
Encanto e magia
Que sinto e que vejo.
É flor perfumada
É rio em disparada
É carnaval de alegria
É pergunta que silencia.
Que força é essa

Que a comunhão do olhar expressa?

Denize Maria

quarta-feira, 5 de junho de 2013

FÁBULA




Vida moleca que não cresce
E corre descalça
Caminhos de pedras e espinhos.
Bebe da água que verte das dunas
Abraça a paixão dos vendavais
E abre os braços para o abrigo
De loucuras e fugidias venturas.
Adormecida no carinho da brisa
Passageira vida viva passeia
Pelo teu olhar vergel desabrochando...
Folhas e flores de ilusões vernais
Acariciam meu corpo e me entorpecem.
Giram os astros a vida
Num emaranhado de sentimentos
Num romper de grades austeras
Numa explosão meteórica de amor
Espalhando destroços, e auroras;
Despertam o encanto zodiacal
Na demência dos medos
(verdadeiros oceanos abismos)
Por onde singram desejos
Que partiram sem destino
(na certeza, a insensatez os naufragou).
Na ânsia do fim medonho
Ecoa um grito uníssono de desespero
E porquês buscam respostas
Numa histeria sem limites.
Nossa insanidade está disfarçada
Entre flores e poemas
No abandono de regras e normas
No confuso delírio de viver
De altas apostas nesse jogo sedutor
Brasa que arde, veneno que vicia.
No tempo curto de um flash, a vida
A eternidade registrada como alma nômade
Vestida de magia, adereço de felicidade.
Vida, poção que encanta e intriga!
Entre carrosséis e algodão doce
Numa roda gigante faz-de-conta
Ria de mim um palhaço macabro.
Quem mandou a moleca acreditar?
O destino me contou uma fábula:

Lírios não brotam no deserto.

Denize Maria

LENDA




Criei-te poema sem rima
Dei-te um nome que é morna carícia
E o escrevi na areia, grande tela.
Circulei-o com um coração caprichoso
E num ritual forte te ofertei às ondas
Enquanto semeava minhas lágrimas quentes.

Criei-te liberdade, feito o vento
Dei-te cores e pincéis
Que me retribuíste com um arco-íris no olhar
E violetas nas jardineiras de meus lábios.
Coloriste minha alma com a primavera
E destes vida às borboletas de papel.

Criei-te doce, feito mel.
Segredei-te meus sonhos mansos
Retalhos de fantasias e verdades...
Busquei refúgio no teu oásis de aconchegos
E vivi o medo de mergulhar fundo nos teus olhos
Fonte de desejos transbordando estrelas vivas.

Criei-te luar farto
E dei-te vastas avenidas para desfilar
Mas inquieta, sequestrei todo esse brilho intenso
Como se quisesse, por ciúmes, afogar a madrugada
Que rouba de ti o perfume do verão que se fez em mim.

Denize Maria


terça-feira, 4 de junho de 2013

NÉCTAR




Quando ainda a madrugada envolta em névoa fria
Fazia-se poema, rendida aos carinhos da lua,
Por atalhos sedutores
Atraída pelo ímã de teus olhos corruptores
Ousei perverter-me em nosso paraíso.
Alforriei todos os meus medos
Afloraram-se todos os meus desejos,
E descobri que há mel em teus lábios
- bombons recheados que guardas só para mim.
Nosso insano amor é fagulha de intenso calor
Garantia de que os sonhos, embora breves, não são em vão.
Nosso insaciável querer, como as açucenas
às margens dos lagos - que amam exaustivamente as águas
Haure-se de lembranças e momentos caros, seiva da vida
Eterna saudade que inebria e nos enleva.
Voa baixo o beija-flor, desenhando versos doces, sensuais
Vai e volta vívido de amor, apossando-se das margaridas
Que florescem em meus lábios que te esperam.
Eu, sedenta, me devoro, vivendo dessa ânsia louca
De possuir-te em toda tua volúpia, livre e leve
Como um beija-flor do amor.

Denize Maria


MANA




Esconde-esconde segredos - jardim da vida
Brincadeira sem juízo – menina crescida
Que não afugentou a criança – doce moleca
Cheia de atitudes e interrogações – flor bem-me-quer.

Seca as lágrimas, menina-moça, com tua vasta cabeleira,
Tira as sandálias, pisa de leve as pedras da estrada...
Balança teus lindos sonhos nos galhos da esperança,
Abre teus braços, outros abraços estão à tua espera.

Corre liberto amor – ouça o som da cachoeira,
O beijo das águas te espera em sua mansidão secular.
Vai, banha a tua alma inquieta de adolescente,
Sacia a tua sede de infância, terna mulher.

Nas rendas de teu vestido rodado
Bordado com recordações e saudades
Voam ainda borboletas multicores
Que pousam contentes no jardim de teu sorriso.

Quis o destino que nascesses no outono,
Mas trouxeste a primavera na alma...
Por algum tempo... Minha boneca viva!

Para todo sempre... Mana, amiga, fada-duende!

Denize Maria

segunda-feira, 3 de junho de 2013

PRISÃO

Com os pés desnudos
Invadi o éden proibido...
Dos lírios, provei o inibriante perfume
Do prazer, embebi-me com seu doce licor...
...e deixei-me tocar pela brisa
Numa entrega sem interrogações.
Minh'alma perdeu-se por lá
Meu corpo perambula por cá.

Denize Maria

CONFLITOS

Sou o amor puríssimo
Que  se libertou dos elos terrestres.
Sou o amor que silencia, que acalma.
Sou a mutação moldando esse amor
Em longínqua dimensão.
Sou como criança solta ao vento
Vagando num verso perdido no tempo.
Sou um ramo de flores frescas
Com cheiro de saudades.
Sou quem mergulha nos mistérios do coração
E navega calma e mansamente
Nas ondas desse  amor.
Sou quem te ama sem pudores ou temores,
Só com muita ternura em total entrega.
Sou a força que transforma os sentimentos
Em inebriante felicidade.
Sou vertente que não cessa
Onde a razão lança redes.
Sou o oposto
Sou sol que brilha na madrugada.
Sou o que ninguém entende
Sou fogo que se acende na ventania.
Sou a lágrima pura que escorre
Ao som da mansa canção.
Sou o gemer das horas
Que espera paciente o tempo vagar.
Sou quem se perde em seu olhar
E delicio-me em teu sorriso cativante.
Sou a interrogação que silencia
Em forma de resposta.
Sou a melodia suave
Que invade sutil teu coração.
Sou o amor inexplorado
Que busca apenas existir.
Sou o amor que não exige mudanças
Sou o amor que superou o tempo e a distância.
Sou o relento que adormece
Sob o brilho incansável de tua estrela.
Sou o sussurro da noite
E a folha que baila no vento.
Sou o oceano de águas navegáveis
Em busca de praias calmas.
Sou ternura sem fim
Como a bruma sobre a cascata espumante.
Sou o alpendre
Onde se debruça o passado.
Sou o suporte, a base
Onde se firma a realidade presente.
Sou a janela da incógnita
Que se abre para novas auroras,
Onde esse amor viverá certamente,
Com a mesma intensidade que nasceu.
Sou o infinito
Onde o oceano beija o firmamento.

Denize Maria
(antiga, porque tinha que ser assim...)





domingo, 2 de junho de 2013

RETALHOS

Existem ventos que se conformam em derrubar as folhas das árvores.
Existem ventos que tentam arrancar suas raízes e se não conseguem, tentam ao menos contorcer seus galhos.
Existe também a brisa, um vento menino que esqueceu de crescer, virou poeta e que vive de acariciar as flores e brincar com o voo das borboletas.
Ventos... eles nunca passam em vão...
Um certo dia peguei carona num vento que tem nome, sobrenome e codinome....
...e em meu coração esse vento deixou de ser efêmero.

Denize Maria

sábado, 1 de junho de 2013

TRAVESSIA

No deserto profano que atravesso
Numa caravana que vagueia difusa
Com tendas feitas de sonhos e ilusões
Contemplo teus olhos – miragem confusa.

Na boca ávida, a sede de ti me consome...
E um grito se perde sem eco no horizonte.
Os rastos que o vento se apressa em apagar
Procuram nuas águas que brotam da fonte.

Perdem-se nas dunas em constante metamorfose
Os gritos surdos e os desejos mais ocultos.
O mesmo sol que aquece o dia incendeia corpos
Que se camuflam na noite como insones vultos.

Palavras, tantas palavras ditas e escritas ao léu!
Cirandas de versos – olhares afoitos e enigmas
Que o vento tratou de varrê-los para bem longe...
Razão sem sentido, sem regras, sem paradigmas.

Certezas, feito ventos impacientes e constantes
Desejos, feito areias que escorrem pelos dedos...
A travessia chega ao fim sem encontrar o teu oásis:
Sem um trajeto demarcado esbarro nos meus medos.

Denize Maria.