Não sou muito
de me atrever a escrever crônicas, mas hoje o dia é especial e merece um
pouquinho do meu esforço.
Toda véspera
de Natal algumas imagens ressurgem na minha cabeça e a nostalgia toma conta.
São cenas que marcaram minha pobre infância, mas que foram essenciais para a
construção do meu caráter e educação.
Eram meados
dos anos 70, eu tinha em torno de 5 anos e morava numa comunidade do interior
do município de Ibian, SC (que naquela época ainda nem município era, pertencia
à Tangará). Nossa humilde casinha era desprovida de muitas coisas materiais,
mas nas recordações que tenho ficaram as coisas que nenhum dinheiro
compra. Relembro do vendaval que quase
levou nossa casa pelos ares em plena
madrugada; do dia que meu irmão quase decepou um dedo da mão esquerda moendo
milho na máquina; das idas à igreja, do riozinho que passava nos fundos da
propriedade, dentre tantas. Mas tem uma lembrança que marcou e ainda recordo
sentindo o gosto das ameixas vermelhas tão fartas nessa época do ano.
Naqueles
tempos eu nem sabia da existência do Papai Noel. Nosso único meio de
comunicação era um rádio à pilhas enorme que tinha um lugar de destaque num
canto da cozinha sob uma travessa construída especialmente para ele. Acreditávamos
naquilo que os pais e avós nos contavam e isso era tudo o que precisávamos
saber. Neste dia, véspera de Natal, esperávamos a vinda do Menino Jesus, ou
Bambim como diziam. Presentes eram tão
raros e de valor pequeno, mas isso era tudo o que tínhamos e não sei se fazia
falta ter ou não dinheiro. Aquilo que ganhávamos era o maior presente do mundo
e nos tornava importantes. Geralmente ganhávamos roupas, pequenos brinquedos,
algum mino. Mas na véspera era muito
importante deixar debaixo do pinheirinho decorado com algumas bolas coloridas e
pequenos pedaços de algodão, alguma coisa para agradar o Menino Jesus dar de
comer para o burrinho que carregava Maria com o Menino.
Naquela
simplicidade toda, deixávamos capim, milho e água para o burrinho; bolachas que
a mãe fazia especialmente para o Natal (essa era nossa guloseima extra) e
ameixas para a família do Menino Jesus. Ah, as ameixas! Tinha um pé enorme que
acredito nunca ter sido podado e
estendia seus galhos em grande copa. Carregava de ameixas vermelhas e doces.
Saborosas como qualquer fruta que vem assim sem veneno algum, sem cuidados. Naqueles
tempos ainda se produziam frutas sem agrotóxicos e com sabor de fruta. Íamos
eu, minha mãe e meu irmão buscar dessas frutas para colocar debaixo da árvore de
Natal. Enchíamos uma cesta de vime e voltávamos para casa faceiros pela simples
ideia de alimentar alguém muito especial.
Hoje ao
acordar, a primeira coisa que me veio à lembrança foi a cena de colher as
ameixas vermelhas. Pode ser que para você leitor, isso seja só uma leitura, mas
para mim é algo que marcou minha infância. Hoje posso comprar ameixas
vermelhas, mas elas nunca terão o mesmo sabor daquelas que eu colhia para
ofertar ao Menino Jesus.
Tenham todos
um FELIZ NATAL!
Denize Maria