'' Falar sem aspas,amar sem interrogação, sonhas com reticências,viver sem ponto final.'' Charles Chaplin

domingo, 24 de novembro de 2013

A LÁPIDE DE UM GUERREIRO



Hoje estou velho.
Vivo nas ruínas de um castelo
Que um dia, já fora belo,
E então notei  que o tempo não livra ninguém.
Me vejo entre as paredes de pedra da velha fortaleza
Agora pretas,
Marcadas por inúmeros incêndios
Causados pelos vários inimigos que por aqui passaram.
A paliçada está em pedaços, abandonada,
Mas em seu tempo de gloria
Abrigara mais de mil homens fortemente armados.
O salão de festa, que já recebera pessoas de todos os cantos,
Jaze vazio, apodrecendo, esquecido.
Sem receber visitantes há um longo tempo.

Já participei de inúmeras batalhas
E estive presente em algumas invasões
Saqueado, pilhando e matando.
Lutei com pessoas das mesmas terras minhas
E com homens vindo além-mar.
Aço em pele, sangue no rosto,
Espadas brandidas, lanças atiradas,
Flechas zunindo, machados cortando,
Escudos apostos, erguidos em defesa,
Salvando a mísera vida e aparando golpes.

É na parede de escudo, o lugar onde o terror toma conta,
Que se fica cara a cara com seu inimigo,
Sente seu bafo de cerveja e escuta insultos.
Vê homens com ódio e medo em seus olhos,
Pois eles sabem, tanto um como outro,
Que não podem fugir do destino.
Pagãos rezam e tocam seus amuletos
Cristãos se confessam e fazem suas orações
E então, começa a canção das espadas.
O júbilo de uma batalha,
O cheiro de uma carnificina.
O ferro que mata, degola e fere,
Guiados por homens corajosos,
E que deixaram para trás, crianças, casas e mulheres,
Para ir à luta e ganhar sua honra...

Mas hoje, tenho mais do que oitenta  invernos
E minhas cicatrizes persistem na dor
Ainda posso sentir o frio da lâmina cortando minha pele.
Ultimamente me sinto um velho solitário, abandonado,
Que contrata bardos para entoar meus feitos.
Já fui um grande homem, um senhor da guerra
Liderei milhares de guerreiros,
Participei de inúmeras campanhas,
Matei vários homens e vi meus amigos caírem no chão.

Porém, ainda lembro-me do rosto de minha amada
Seus cabelos longos e negros, como uma noite sem lua,
Sua pele branca e fina como a pétala da rosa virgem...
Possuía o brilho das estrelas em seus verdes olhos
E um riso doce... Que já me pertenceu...
Choro de dor, por essa perda irreparável
Que os deuses  não conseguiram  impedir.
À noite, quando um ar gélido entra pela janela,
Percebo meus frágeis ossos doerem,
E me deparo com a minha vida esgotada

Esperando a minha hora de ir.


Gabriele Bee

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